É chegado o tempo que poderiamos considerar o mais místico e simbólico para o Cristão. O acontecimento comemorado e vivido simbólicamente nestes dias, simplesmente deu ao Cristianismo sua razão de existir.
O Cristianismo é solidamente fundamentado na entrega do Cristo, Jesus, em expiação dos pecados da humanidade. É exatamente o que se comemora na Semana Santa, que reproduz simbolicamente as últimas horas do Mestre dos Mestres, Jesus antes de sua paixão e os primeiros momentos depois de sua ressurreição. Estes momentos não poderiams ser melhor definidos do que com a frase que é refrão para uma música bem conhecida desse período e que reflete os ensinamentos de Jesus: "Amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado."
Toda a simbologia, toda a celebração e tudo o que é feito na Semana Santa acontece para que nos recordemos que a perfeição se fez imperfeita ao carregar nossos pecados tal qual os cordeiros imolados pelos sacerdotes hebreus em pedido de remissão dos pecados do povo de Israel. E quem teria tal amor? Quem se daria em sacrifício a tão ingrata e volúvel raça de seres como os humanos se não a própria personificação do amor? Jesus mostrou-se tão apaixonado por sua criação que se deu. Rebaixou-se. Humilhou-se por pessoas que ele acredita valer a pena. E sinceramente se Ele que tudo sabe acredita, quem sou eu para duvidar?
Será que somos capazes de tal amor?
Parece algo distante da humanidade. Não somos capazes de nem mesmo nos doar por instantes ao nosso próximo, o que dirá doar a própria vida. Mas não é algo impossível. E a maior prova disso reside na maternidade. uma mãe é capaz de ceifar a sua vida para salvar a de um filho. Os sábios cientistas chamam isso de instinto de sobrevivência. Deus chamou-lhe AMOR. Os filósofos de ágape. Eis o amor que se apróxima do de Cristo. Para chegar a igualdade teremos que ver irmãos, amigos doando-se por outros. Até não com a doação da vida, mas com a doação do amor.
A Bíblia fala sobre Davi e Jônatas, que foram fiéis um ao outro como nunca. Fala sobre os discípulos pregadores do evangelho, que doaram a sua vida para que eu e você pudessemos ouvir falar de quem antes era conhecido com Yeshua Benhyusef, e hoje é conhecido como Jesus Nazareno, Filho de Davi ou ainda o Cristo, Filho de Deus. O Salvador da Humanidade. De fato, eles sacrificaram-se por nós. Deram suas vidas terrenas para melhorar as de muita gente e salvar a vida eterna de outros tantos.
Admirável e superhumano. Mas cada dia mais difícil. O mundo entrou numa situação de enclausuramento, em que ao mesmo tempo que as barreiras e fronteiras caem com a tecnologia, essa mesma tecnologia, torna as pessoas menos dependentes e mais individuais. "Se as coias estão boas para mim, o resto do mundo pode evaporar. Não estou nem aí." Este individualismo tem envenenado a sociedade, corrompido caráteres e destruído famílias. E o pior. Sem que percebamos.
Neste contexto, fica cada vez mais raro encontrar pessoas que se doam. E não estou falando de doar a vida. Falo de dar a cadeira ao mais velho, a vez na fila, devolver o dinheiro achado e por aí vai. E isso são coisas muito simples se comparado a angustia de morrer asfixiado numa cruz por uma culpa que não é sua. Coisas simples que a competitividade da vida atual transformaram num verdadeiro martírio e que se não fizermos algo vai piorar muito, pois já não fazemos refeiçõess em família e sim com a TV; não temos que tratar mais com ninguém para resolver nossos assuntos bancários; as livrarias já reduzem seus funcionários graças aos serviços de procura rápida e ainda tem a internet, onde compramos sem ver ninguém. Vamos cada vez tendo menos contato humano e ficando mais frios e menos amorosos e consequentemente menos sujeitos a troca de gestos de afeto e doação.
O ser humano não pode viver sem este contato. Deus reconheceu isso e só deu por terminada a obra de criação do homem depois que tomou de uma de suas costelas e fez a mulher para que este não estivesse só. Mas parece que estamos fazendo o caminho inverso e nos fechando dentro de nossos próprios mundos onde somos reis de uma nação sem súditos. Onde não nos sacrificamos nem somos dígnos de sacrifício. Se continuarmos assim, o homem que nasceu do amor, vai perecer por falta dele. O sopro de vida que com tanto amor foi doado por Deus, vai se extinguir sem força para manter viva a creatura (Com é mesmo) mais complexa creada (Idem) pelo Grande Arquiteto do Universo: o ser humano.
No entanto, somos dotados de uma capacidade de persistir, acreditar de sonhar e romper os limites da razão, do imaginável e do tangível em nome de um sonho e de um ideal. E bem no fundo do coração de cada um; martelando como o incansável martelo de Tubalcaim, resta uma chama de amor que grita aos coraçãos: "Amai-vos uns aos outros como Eu vos tenho amado."
É Jesus que ergue-se para derrubar as barreiras representadas pelo individualísmo, pelo capitalismo selvagem, pela ganância, pelo egoísmo e o despotimo e procura forjar novos corações no Fogo Santo que renova todas as coisas e na Água que com o batismo faz surgir nova criatura que é capaz de se sacrificar pelo Irmão. Talvez não com a morte, mas com a demonstração de que mesmo neste mundo de crueldade, egoísmo e ganância é possível ainda mostrar o amor em cada pequeno gesto.
Que estes importantes dias da Semana Santa inspirem o amor no coração de cada Irmão e Irmã e que amemo-nos uns aos outros como ELE nos amou.
Fonte: Blog do Ir.´. Jaimar Gomes
