quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Maçonaria Operativa e Maçonaria Especulativa.

De Ambrósio Peters ( * )

Outro motivo de incompreensões para com a Maçonaria é a diferença entre Maçonaria Operativa e Maçonaria Moderna. É uma diferença aparentemente sutil para o mundo não maçônico, por causa da adoção, pela Maçonaria Moderna, de todas as tradições e práticas da Maçonaria Operativa, como os símbolos, os rituais, o sigilo e os regulamentos, embora a essência de seus princípios e de sua filosofia sejam totalmente distintas.

Os maçons operativos eram os construtores medievais que se associavam em guildas para melhor defender os seus interesses classistas e estavam estreitamente ligadas ao sistema religioso. As primeiras guildas surgiram na Inglaterra ao final do século IX e início do século X.

Os maçons especulativos eram cidadãos livres, com uma nova mentalidade social que a partir do século XVI começaram a ocupar o espaço deixado vago pelos maçons operativos, que se desestruturavam. Empunhavam a bandeira de uma nova fraternidade, não mais alicerçada exclusivamente em princípios religiosos, mas livremente nascida da compreensão e a solidariedade humana.

A diferença fundamental é, pois que, maçom especulativo não é simplesmente um maçom operativo que deixou de trabalhar no seu ofício e aprimorou o seu espírito. Foram as lojas operativas que se transformaram em lojas especulativas pela substituição progressiva dos membros operativos por membros especulativos. Veremos essa transformação mais detalhadamente no capítulo “Os Maçons Especulativos”.

Se assim não fosse, e se a Maçonaria Especulativa tivesse simplesmente abandonado os ideais classistas da Maçonaria Operativa ao assumir as suas lojas, se teria transformado em uma sociedade sem objetivos, e nenhuma sociedade pode evoluir e prosperar sem propósitos definidos. O rápido crescimento da Maçonaria Especulativa no século XVIII demonstra que ela tinha propósitos definidos, que serão traduzidos no capítulo “A Filosofia Maçônica”

Pode-se melhor aquilatar a diferença entre as duas fases históricas da Maçonaria comparando o texto do mais antigo dos documentos do grupo “Antigos Deveres”, que é o Manuscrito Régio, datado de 1389, com o do mais antigo documento oficial da Maçonaria Especulativa, o Regulamento Geral, de 1721, que é parte integrante do Livro das Constituições, promulgado oficialmente pela Grande Loja de Londres em 1723.

Nos documentos das guildas medievais se percebe a preocupação constante com a regulamentação do exercício da profissão, com o comportamento social dos mestres, companheiros e aprendizes, com o cumprimento dos deveres religiosos e, em especial, com a assistência social aos associados da guilda. O conjunto desses regulamentos, que remontam ao tempo do Rei Athelstan (924/940) é conhecido como Antigos Deveres.

No Regulamento Geral não há logicamente referências expressas a deveres profissionais, a não ser como alusão simbólica e comparativa, e se omitem as referências aos deveres religiosos, que não são obviamente relegados a um segundo plano na vida do maçom, mas reservados ao plano individual. Há sim uma preocupação com a convivência fraternal entre os membros e com o socorro aos desvalidos, em geral e não somente aos irmãos. Evidentemente os princípios básicos são diferentes.

Ser maçom especulativo significa ser observador, perceber os princípios morais subjacentes aos símbolos e aplicá-los na construção de relacionamentos humanos confiáveis, sinceros e leais, e, através do estudo e da observação, tentar apreender a melhor forma de construir uma harmoniosa e perfeita fraternidade.

O que os maçons especulativos fazem ultrapassa os limites de suas Lojas. O maior trabalho de um mestre maçom moderno é aplicar de maneira prática e correta a sabedoria moral que se espera tenha adquirido durante sua vida maçônica. Ele vai à loja para especular, estudar e aprender e volta ao mundo para trabalhar e aplicar o que aprendeu. O mestre maçom especulativo não é mais um construtor material como o eram os mestres maçons operativos. Ele será antes de tudo um homem moralmente sadio em busca da luz da verdade, dedicado à construção do edifício moral da humanidade.

Havia também fraternidade entre os irmãos operativos, mas era uma fraternidade corporativista, voltada apenas para os membros das guildas. Os irmãos especulativos ampliam os horizontes de sua fraternidade estendendo-a a todos os homens. Os operativos eram individualistas, e os especulativos são essencialmente altruístas e filantropos.

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